segunda-feira, 30 de julho de 2012

Um poema


Coágulo
(Alphonsus de Guimarães Filho)

De repente direi tudo.
Mas com tanta veemência
e com tamanha aspereza
de expressão e sofrimento,
que terás minha demência
no coágulo sangrento
desabado sobre a mesa.

E sairei pelas ruas
sem saber em que cidade
estive, estou, estarei.
Triste alegre puro impuro
vejo a morte em cada muro
a morte na campainha
ressoando do outro lado.
E estertorando direi
que vejo sangue pisado
nessas ervas pés e mãos
nesses gestos nesses risos
que vejo sangue pisado
até na face do Rei!

De repente, num soluço,
direi tudo quanto existe;
não serei nem bom nem triste.
Serei apenas um grito
doloroso rebentado
na convulsão de um momento.
E o mundo penoso aflito
restará desesperado
num coágulo sangrento.

Litteras et Fidem

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